Agostinho dos Santos, presidente da Casa do Minho do Rio de Janeiro, faleceu aos 77 anos

Deixa importante legado de aproximação Brasil-Portugal

Alto Minho | Quem visita a Casa do Minho do Rio de Janeiro encontra um pedaço de Portugal no Brasil. Com uma arquitetura característica e eventos diversificados, esta entidade é hoje um marco do que Portugal pretende mostrar aos brasileiros.

Dentro das suas instalações pode-se ver uma exposição de trajes, de Braga e de Viana, existe um restaurante típico chamado Costa Verde, que aposta na gastronomia lusitana, e, neste mesmo local, a Adega Conde de Barcelos, que reúne vinhos portugueses de excelência.

Traços do calendário de iniciativas da Casa são a Quinta de Santoinho, um retrato do que é feito em Darque, Viana do Castelo, e as festas tradicionais religiosas. Ainda neste contexto de perpetuação da “memória” portuguesa no Brasil, a Casa do Minho conta com quatro ranchos folclóricos, o mirim ou infantil, o dos Veteranos, o Gaúcho e o Maria da Fonte, que soma prémios e exibições nacionais e internacionais. Por todas estas razões, e por receber rotineiramente nomes de vulto da comunidade portuguesa no Brasil e autoridades portuguesas, brasileiras e luso-brasileiras, a Casa do Minho hoje é uma entidade internacional, conhecida do público em vários locais do Brasil, na América do Sul e, claro, em Portugal.

E é este parte do legado que Agostinho da Rocha Ferreira dos Santos, presidente da Casa do Minho do Rio de Janeiro e da Obra Portuguesa de Assistência, deixou após falecer no último dia 28 de janeiro, às 23h50, vítima de morte súbita, na cidade maravilhosa, aos 77 anos de idade. O velório aconteceu no dia 30 no Salão Nobre da Casa do Minho no Rio, com a presença de centenas de amigos, familiares e autoridades.

Em representação do governo de Portugal, esteve presente o embaixador português Luís Faro Ramos, que se deslocou de Brasília para o Rio de Janeiro para o funeral. Durante a cerimónia, este diplomata falou sobre “a grande figura que Agostinho representava para toda a comunidade luso-brasileira”.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ligou para a filha de Agostinho, Fátima, para deixar palavras de conforto ainda antes de a família de Agostinho embarcar para o Brasil desde Lisboa, e lamentou o desaparecimento de uma figura que contribuiu bastante para a defesa do nome de Portugal no estrangeiro.

O R. F. Maria da Fonte, um dos orgulhos de Agostinho, cercou a urna onde estava o corpo do presidente e cantou o hino do Minho em sua homenagem.

Estavam presentes também a vereadora Teresa Bergher, o ex-deputado pela emigração pelo círculo de Fora da Europa, Carlos Páscoa, o presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas, Flávio Martins, Fernando Veloso, que foi secretário de Segurança no Rio, e o viseense António Cardão.

A urna seguiu para o cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do município do Rio de Janeiro, escoltada pela Guarda Municipal, a pedido do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. O funeral aconteceu às 15h. A Missa de sétimo dia decorreu no último dia 3 de fevereiro no Santuário São Judas Tadeu, no Cosme Velho, no Rio.

Homenagens pela forma como a Casa ganhou dimensão no Brasil e em Portugal
Autoridades, amigos e personalidades manifestaram pesar pela perda de Agostinho, que traduzia em ações o amor pelo alto Minho e pelas entidades que presidia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, lamentou “profundamente o falecimento de Agostinho” e endereçou “condolências à família enlutada, assim como à comunidade portuguesa no Brasil, que perde um dos seus vultos”.

Berta Nunes, secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, disse que “a Comunidade Portuguesa e Luso-brasileira no Brasil, e em particular no Rio de Janeiro, perdeu uma das suas figuras de referência. (…) Figura de grande carisma e simpatia, que soube construir, a favor da Casa do Minho, uma extensa rede de amizades e parcerias no Brasil, em Portugal e pelo mundo, fundamental na elevação desta Casa ao estatuto que hoje ocupa, uma das mais prestigiadas instituições do associativismo português no mundo. Na vertente social, o seu empenho na modernização e na sustentabilidade da Obra Portuguesa de Assistência, que presidia desde 1985, foi fundamental para assegurar o futuro desta instituição centenária, cuja segurança financeira está assegurada ao mesmo tempo que continua a prestar serviços médicos de elevada qualidade aos seus sócios remanescentes. Foi distinguido com a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, atribuída por esta Secretaria de Estado; em 2017 recebeu também a Comenda de Cidadão de Honra de Viana do Castelo por ocasião dos 169 anos do município. Em 2021, no jantar em homenagem aos 100 anos da Obra Portuguesa o Rancho Maria da Fonte recebeu, do governo português, a placa de honra de Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas. Enquanto secretária de Estado das Comunidades Portuguesas saúdo o legado de Agostinho dos Santos e o seu trabalho de décadas ao serviço da Comunidade Portuguesa e de Portugal”.

Por sua vez, a Embaixada de Portugal no Brasil, liderada por Luís Faro Ramos, salientou que Agostinho dos Santos “trata-se daquelas raras pessoas que deixam marca duradoura nas instituições em que colaboram: na Casa do Minho do Rio de Janeiro, no Rancho Maria da Fonte, na Obra Portuguesa de Assistência, entre muitas outras. Enquanto presidente da Obra Portuguesa de Assistência do Rio de Janeiro foi um dos signatários, em Brasília, do Memorando de Entendimento que, no passado dia 15 de outubro, criou a Rede PORTUGAL SAÚDE no Brasil. Lembramo-lo hoje com sincera admiração e grande estima pelo seu legado”.

O Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro também homenageou Agostinho dos Santos dizendo que “a comunidade portuguesa e luso-brasileira do Rio de Janeiro, e no Brasil, acordou com a trágica notícia do desaparecimento de uma das suas mais emblemáticas lideranças” e que “ao longo das últimas quatro décadas, a liderança sábia e discreta de Agostinho dos Santos permitiu-lhe construir inúmeras amizades e parcerias que elevaram a Casa do Minho ao estatuto de uma das mais prestigiadas instituições do associativismo português no mundo. O seu trabalho no Rancho Maria da Fonte, bem como na preservação e garantia de futuro da centenária Obra Portuguesa de Assistência são legados que não deixarão esquecer o seu nome. Parceiro inexcedível das autoridades portuguesas, Agostinho dos Santos integrava, há largos anos, o Conselho Consultivo deste Consulado-Geral”.

João de Deus, cônsul-adjunto de Portugal no Rio, sublinhou que “há apenas uma semana, despediu-se com aquele abraço reforçado e o habitual “estamos juntos, Joãozinho”… Estaremos sempre, querido amigo Agostinho”.

Paulo Porto Fernandes, então deputado à Assembleia da República portuguesa pelo círculo de Fora da Europa, considerou a morte de Agostinho dos Santos “uma perda irreparável para toda a comunidade luso-brasileira”.

Já José Cesário, também deputado à Assembleia da República portuguesa pelo círculo de Fora da Europa à época, comentou que Agostinho foi “durante muitos anos responsável pelo Hospital da Obra Portuguesa de Assistência. Foi, aliás, nessa qualidade que o conheci, tendo, há quase 20 anos, apoiado o seu trabalho em prol dos portugueses mais carenciados no Rio. Era um homem extremamente dedicado à preservação dos valores tradicionais da nossa Cultura, perdendo-se assim mais uma das grandes figuras da nossa Comunidade no Rio de Janeiro”.

Luís Nobre, presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, lamentou “o falecimento do presidente da Casa do Minho que era também Cidadão de Honra de Viana do Castelo desde 2017”. Este responsável comentou que, “no ano de 2018, Agostinho dos Santos presidiu à Comissão de Honra da Festa em Honra de Nossa Senhora da Agonia, pela relação próxima e direta entre a Casa do Minho e o Município de Viana do Castelo e que a Casa do Minho tem sido um garante da preservação das tradições minhotas no Brasil, com um papel de destaque aquando do acordo de geminação entre o Rio de Janeiro e Viana do Castelo”.

Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, destacou que Agostinho era uma “figura ilustre da comunidade portuguesa do Rio de Janeiro. Ao longo das últimas décadas, o seu trabalho foi inexcedível em prol das tradições culturais minhotas e todo o seu percurso em muito honrou Portugal e, em especial, a região minhota. (…) Foi o grande embaixador da cultura minhota no Rio de Janeiro nas últimas décadas. Ao longo dos últimos anos, Braga contou sempre com a amizade e estima de Agostinho dos Santos, tendo por diversas vezes interagido e colaborado em diversas iniciativas. Ainda em 2019, Braga teve a oportunidade de receber uma atuação do Grupo Folclore Maria da Fonte, bem como a apresentação do livro “Rancho Folclórico Maria da Fonte da Casa do Minho do Rio de Janeiro – A Jornada do Grupo Português que Valoriza a Cultura Minhota no Brasil desde 1954”, de Ígor Lopes. Nessa altura, Agostinho dos Santos “demonstrou mais uma vez a sua estima pela cidade de Braga, continuando a colaborar na divulgação da nossa região no Rio de janeiro através de diversas formas. Portugal e a diáspora Portuguesa ficaram mais pobres com o seu falecimento”.

A deputada estadual no Rio de Janeiro, Martha Rocha, ressaltou que Agostinho “sempre foi uma liderança importante para todos nós da comunidade luso-brasileira. Tive a oportunidade de estar com ele inúmeras vezes e era sempre um aprendizado para mim. Agostinho deixa um legado importante, principalmente no que diz respeito a importância da preservação da nossa cultura. Conheci-o há muitos anos quando ele era companheiro de meu pai Horácio Augusto da Rocha na Obra Portuguesa de Assistência. Mesmo após o falecimento do meu pai, continuei acompanhando a sua trajetória. Amigo incansável, sabia reconhecer os que o antecederam, como fez com o meu pai, quando após a sua morte nomeou uma nova ala do hospital da OPA com seu nome. Foi um defensor incansável do Folclore e das tradições portuguesas. Perdeu-se um amigo fiel, um português de boa cepa e uma liderança que será difícil de substituir”.

Já a vereadora Teresa Bergher, em atuação no Rio de Janeiro, atestou que Agostinho “conseguiu escapar da Covid-19, mas não escapou do dia em que Deus determinou que seria o fim da sua passagem por este mundo de tanta maldade e imperfeição. O meu abraço especial à família Casa do Minho, seu segundo lar, e a razão da sua existência. Que o seu legado de dedicação às tradições e cultura portuguesa, especialmente o folclore, possam ser seguidos por quem venha a sucedê-lo. No Céu, ao lado dos nossos grandes líderes, António Gomes da Costa e Benvinda Maria, numa imensa torcida, e inspiração, a Casa do Minho receberá muitas bênçãos e força para continuar a sua bela história”.

Flávio Martins, presidente do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas, referiu que “o presidente Agostinho fará muita falta à Casa do Minho e à Comunidade luso-brasileira. Desde garoto lembro-me dele: viseense de sangue, minhoto de coração. Folclorista, passou pelo Rancho de Pias (Cinfães, Viseu) e, já no Brasil, tornou-se um abnegado defensor do seu R. F. Maria da Fonte. Amigo, sempre recebia a todos com um sorriso no Solar Minhoto, mesmo que os problemas fossem gigantescos. Trabalhou e se preocupou com os outros (especialmente com os mais próximos) até o seu último suspiro. Deixa um legado de como não se curvar nem à pandemia que o apanhou no ano passado. Sempre me referia a ele como “presidente”, uma referência dentre tantos bons presidentes que conheci (ou conheço). Pelas mãos da sua diretoria tornei-me “Minhoto Honorário””.

A fadista Maria Alcina, uma das atrações em muitas festas nesta Casa, mencionou que “a nossa Casa do Minho perdeu o seu presidente maior. Maior no amor à casa, maior à dedicação aos costumes minhotos, amor Infinito pela luz dos seus olhos, o seu Rancho Maria da Fonte e os seus componentes. A Comunidade Luso-Brasileira perdeu o seu representante que sempre lutou pelo melhor para os portugueses desamparados, através do hospital que presidiu por muitos anos, a Obra Portuguesa, Hospital Egas Moniz”.

Valdemar Cunha, responsável pela Fundação Santoinho, em Darque, Viana do Castelo, disse que a entidade que representa, conhecida pela alegria e tradição, “sofreu mais uma profunda tristeza com a perda de um dos seus mais dedicados e ilustres amigos, o embaixador da alegria e do arraial minhoto por terras do Brasil, o querido amigo Agostinho dos Santos, presidente da Casa do Minho no Rio de Janeiro. Perante a maior verdade da vida, a tristeza tocou de novo o meu coração. Com muita saudade lembro o meu pai e, agora, o nosso comum amigo Agostinho. Conforta-me a sorte de os ter abraçado como exemplos de vida e fontes de inspiração. E, com muita imaginação, retratamos a festa de Santoinho na noite da Casa do Minho. Fiel aos princípios do seu Fundador António Cunha e dos Amigos Prediletos de Santoinho, dentre eles o Senhor Agostinhos dos Santos, fica o compromisso para com todos de que, tal como ele dizia sempre, “a festa tem de continuar””.

Manuel Beninger, presidente da Associação Portuguesa dos Autarcas Monárquicos, realçou que “a comunidade portuguesa e luso-brasileira do Rio de Janeiro, e do Brasil, perdeu uma referência”.

Odir Ferreira, único fundador vivo do Rancho Maria da Fonte, reforçou que “o nome da guerreira Maria da Fonte, natural da Póvoa de Lanhoso, sem dúvida, inspirou Agostinho a se enraizar e a trabalhar pela comunidade luso-brasileira, em especial por um dos seus maiores amores, o Rancho Folclórico. Naturalmente e à sua maneira também pela Casa do Minho”.

Membros da diretoria do Rancho Maria da Fonte disseram que “o falecimento de Agostinho foi uma perda imensurável para o Rancho Folclórico Maria da Fonte. Perdemos um dos mais importantes pilares da história deste grupo. Obrigada, presidente, por elevar o nome e a honra do R. F. Maria da Fonte ao patamar de referência folclórica minhota. Obrigada por uma vida dedicada às nossas tradições. A vida é finita, mas o seu legado será imortal!”.

Em nota, a diretoria da Casa do Minho recordou “a entrega e o trabalho de Agostinho ao longo dos 60 anos em que esteve ligado à entidade”.

O ex-autarca de Viana, José Maria Costa, também manifestou a sua tristeza pela perda do amigo.

Momentos recentes que marcaram a história da entidade
Em outubro de 2021, a nossa reportagem acompanhou a cerimónia de 100 anos da Obra Portuguesa de Assistência do Rio nas instalações da Casa do Minho, com a presença de diversas autoridades vindas de Portugal e apresentações da fadista Maria Alcina e do cantor Márcio Gomes.

Há alguns meses, acompanhamos Agostinho a Viana quando ele assumiu a presidência de honra das festas da Agonia, a convite do então edil de Viana, José Maria Costa. Mais tarde, também acompanhamos o deslocamento do R. F. Maria da Fonte à Viana para exibições na cidade no âmbito das festas da Agonia.

Em 2017, num momento de muita emoção, Agostinho dos Santos apresentou ao público que lotou o Salão Nobre da Casa do Minho os novos trajes dos quatro ranchos folclóricos da Casa, todos vindos diretamente de Portugal.

Ainda em 2017, durante uma cerimónia concorrida, a Casa do Minho do Rio inaugurou as novas instalações do restaurante Costa Verde, referência na culinária portuguesa na cidade maravilhosa. Na altura, Agostinho realçou a importância do local. Neste restaurante, grandes nomes da comunidade portuguesa, e não só, apreciavam o evento “Fado Vadio”, com a presença de amantes desse estilo de música portuguesa. Maria Alcina, fadista renomada no Brasil, marcava presença e encantava.

Entre 2019 e 2020, foi lançado no Brasil, em Portugal e na Argentina o livro “Rancho Folclórico Maria da Fonte da Casa do Minho do Rio de Janeiro: a jornada do grupo português que valoriza a cultura minhota no Brasil desde 1954”, que mostra como essa atividade folclórica ajuda a perpetuar a cultura portuguesa no Brasil. Em Braga, o lançamento da obra foi acompanhado pelo escritor Adélio Amaro, diretor do jornal Gazeta Lusófona e presidente do Centro de Património da Estremadura.

Em 2019, o Rancho Maria da Fonte foi homenageado pela Fundação Santoinho, em Viana do Castelo. Também neste ano, foram celebrados os 95 anos da Casa do Minho com uma cerimónia que contou com a presença de representantes de outras casas portuguesas e de autoridades vindas de Portugal, sobretudo do Alto Minho.

O escritor português João Morgado recebeu das mãos de Agostinho dos Santos o título de “sócio-honorário” da entidade. Nessa oportunidade, Morgado referiu que “o sentido de pertença a uma pátria ganha uma outra força quando se é emigrante. Na Casa do Minho encontrei uma comunidade portuguesa forte e unida, arreigada à cultura de um país, de um povo” e aproveitou para agradecer “a forma carinhosa com que fui recebido e me nomearam “Sócio Honorário”, num almoço que juntou cerca de 700 pessoas”.

Como forma de mostrar a proximidade entre a Casa do Minho e a Festa da Agonia, em 2018 a portuguesa Maria João Soares, mordoma do cartaz oficial da Romaria em Honra de Nossa Senhora d’Agonia 2018, em Viana do Castelo, esteve no Rio de Janeiro, a convite da Casa do Minho, para participar nas comemorações dos 64 anos da fundação do tradicional Rancho Folclórico Maria da Fonte.

Em outubro de 2021, Agostino assinou um protocolo de colaboração institucional entre a Casa do Minho e a Câmara de Comércio da Região das Beiras (CCRB), com o intuito de aproximar os dois países e criar sinergias na promoção das oportunidades nos dois lados do Atlântico. Ana Correia, presidente da CCRB, garantiu que a Câmara que lidera “está disponível para honrar este protocolo e acredita que, com a nova presidência, será posta em prática a colaboração profícua entre a Casa do Minho do Rio de Janeiro e a Câmara do Comércio da Região das Beiras, de modo a potenciarem, por via de iniciativas e ações conjuntas, as relações económicas e o relacionamento empresarial e institucional entre as Regiões das Beiras de Portugal e brasileira, como era vontade do seu presidente”. Agostinho dos Santos enxergava o documento assinado como “uma grande oportunidade de aproximar ainda mais Brasil e Portugal do ponto de vista empresarial, cultural e comercial, através de ações que possibilitem reforçar o trabalho destas instituições”.

“Agostinho deixa um grande legado na aproximação Brasil-Portugal e tinha ainda muitos projetos por concretizar”, disseram fontes ligadas ao empresário, que sentia orgulho por ter levado uma estátua de Dom Afonso Henriques para o Brasil.

Afinal, quem foi Agostinho dos Santos?
Agostinho da Rocha Ferreira dos Santos nasceu em 10 de agosto de 1944 em Quinta de Valverde, Tendais, Cinfães do Douro. Chegou ao Rio de Janeiro no dia 20 de abril de 1959 com a sua mãe e os seus irmãos mais novos, onde se encontrou com o seu pai e a sua irmã mais velha, que já estavam na cidade. Em junho deste mesmo ano, pediu ao seu pai que o levasse à festa junina da Casa dos Poveiros, onde assistiu à apresentação do Rancho da Casa do Minho. Agostinho teria se apaixonado pelo que viu e se interessou em fazer parte do grupo. No mês de agosto, entrou para a lista de componentes do referido Rancho. Começava assim a sua trajetória na Vida Associativa luso-brasileira. Agostinho iniciou a sua jornada no folclore português como dançarino e, mais tarde, como acordeonista. Tornou-se diretor do grupo folclórico da Casa do Minho e, em 1975, assumiu a vice-presidência da instituição, cargo que manteve por cinco anos. Em 1980, assumiu a presidência da Casa diante de uma grande oposição que não o reconhecia, devido ao facto de “não pertencer à região do Minho”. Apoiado por ex-presidentes, e pela maioria dos associados, Agostinho conquistou uma “grande vitória”.

Em entrevista à nossa reportagem, há alguns meses, Agostinho referiu que, ao assumir a presidência da entidade, “pretendia tornar a Casa do Minho numa embaixada das tradições minhotas no Brasil”. Dessa forma, começou a incentivar o intercâmbio com as autoridades da região, em Portugal, trazendo ao Brasil governadores civis, Presidentes das Câmaras do Alto e Baixo Minho, Ranchos Folclóricos, Conjuntos Musicais, Artistas, entre outros.

Agostinho dos Santos foi também responsável pela Obra Portuguesa de Assistência, fundada em 1921 pelo Cônsul-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, José Joaquim Ferreira da Silva, e pelo seu amigo e cirurgião Jorge Monjardino. A sua ligação à Obra remete a 1985, quando aceitou o convite do conterrâneo Albano da Rocha Ferreira para assumir um cargo no Hospital da Obra Portuguesa. Com a saída de Manuel Branco, Agostinho assumiu a presidência da Obra, modernizando o Hospital Egas Moniz, ampliando o local com novos espaços.

Agostinho foi também diretor do Real Gabinete Português de Leitura e Sócio Conselheiro de diversas instituições luso-brasileiras. Ao longo dos anos, Agostinho dos Santos recebeu várias homenagens nacionais e internacionais.

Nos últimos anos, dedicou atenção ao percurso da casa minhota, com projetos que ampliaram a visibilidade da instituição mundialmente. Autoridades portuguesas, brasileiras e de países irmãos mostram cada vez mais respeito pela Casa do Minho. As melhorias nas instalações da Casa, na Zona Sul do Rio, fizeram a diferença na gestão e na história da entidade.