Vinho e Castanhas.

Ou tal vez castanhas e vinho. Não sei quem foi primeiro, não só no tempo que também no serviço a gente. Na época na que andamos ambos são novos e coetâneos, mas na sua origem há diferenças. A castanha, os castanheiros, é uma espécie autóctone da Península Ibérica que topou refúgio climático na Galiza e Portugal ante o avance do frio da última glaciação, alimento básico milenário desde o Paleolítico, até o ponto de que quando chegou a pataca (sec. XV) foi chamada inicialmente “castanha da terra”.

A penetração de Roma fomentou seu cultivo e desenrolo na Gallaecia. O vinho, a vitis vinífera, investigadores manifestam que foi introduzida na Galiza polos romanos, produzindo-se a vide no Sec. I na área do Minho-Sil e no sec. III nas Rias Baixas, ainda que poderia haver aproveitamento da vide silvestre desde a Idade do Ferro. Total que se a maior antiguidade corresponde á castanha o certo é que formaram um importante binômio no que a castanha era alimento para o corpo e o vinho para o espírito (polo de aquilo de esquecer tristezas); não sei que beberiam antes do vinho, há investigadores que apostam pola cerveja, que já o poeta valdeorrés Gurriaran alcumava como “agua choca”.

Pois esta milenária conjunção, que deu lugar aos magustos, unida á imaginativa simpatia de Pepe Posada levou-o a inventar, no seio da Irmandade dos Vinhos Galegos, a Festa da Castanha que no mês de novembro reúne no Parador/Mosteiro de Sto. Estevo a mais de um cento de irmandinhos, amigos e familiares em jornada completa na que não falta cata de vinhos, ingresso de novos irmandinhos, magusto, aperitivo, almoço, dozes e licores com base na castanha, música, etc.

Há mais de 35 anos Pepe Posada que na sua fértil diversidade já escrevera o primeiro livro importante sobre os vinhos galegos, aplicara seus conhecimentos para melhorar, comercializar, expandir e potenciar os vinhos galegos, dirigira adegas e formara parte da constituição de entidades que prestigiassem nossos vinhos, alumiou a ideia de constituir uma Confraria que acolhesse todos os vinhos e DD.OO galegas; que comentou numa reunião tabernaria com José Manuel Anguiano e Manolo Cabezas que aprovaram a ideia e ao que nos sumamos algum mais para em diversas reuniões perfilar a estrutura econômica e legal no novo ente que decidimos chamara-se “Irmandade dos Vinhos Galegos” que, como boa irmandade galega, teria seu Roi Xordo, que recaiu no poeta Manuel Maria, Secretario que seria Pepe Posada, com caráter de “perpetuo” por própria eleição, Sindico, que seria J. Manuel Anguiano e assim outros cargos, correspondendo a mim uma espécie de relações públicas e custodio de que os novos integrantes cumprissem com os requisitos Estatutários.

O primeiro Capítulo da Irmandade, o de seu nascimento, foi em 1991, no Pazo de Vilamarim, com assistência de mais de 50 juramentados novos irmandinhos, de toda Galiza.. Ao final o Sanedrim, órgão colegiado supremo, rematou formado por Pepe Posada, Manuel Maria, J.Manuel Anguiano e eu mesmo que á morte de Manuel Maria passei a ser o Presidente com o nome de Preboste (pois reconhecemos a Manuel Maria como único Roi Xordo). Falecido Pepe Posada, alma e vitalidade da Irmandade, Anguiano e mais eu demos continuidade a uma confraria que já havia rebasado os 130 membros, levava vários anos de vida ativa, com reuniões trimestrais, coincidindo com os solstícios e os equinócios e amplo reconhecimento no mundo do vinho; só anos mais tarde incorporamos ao Sanedrim outros irmandinhos.

“Como a vida segue, continuamos celebrando a Festa da Castanha, como sempre no Mosteiro de Sto. Estevo”

Como a vida segue, continuamos celebrando a Festa da Castanha, como sempre no Mosteiro de Sto. Estevo, que este ano teve seu dia o 22 de novembro, com incorporação de novos membros, cata de vinhos, magusto, procissão, aperitivo, almoço e festa até ao final da tarde. A Irmandade dos Vinhos Galegos e sua Festa da Castanha são tributarias do amor e respeito que polos vinhos galegos sentia Pepe Posada.

Quinta do Limoeiro, dezembro de 2025.

Advogado. Ourense - Vigo - Porto

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