“O encerramento de fronteiras decretado em nada contribui para a resolução da situação de saúde”

Isabel Martins | Câmara Municipal de Melgaço

A economia transfronteiriça está reduzida, com o encerramento do comércio e restauração, ao mais elementar. O movimento de fronteira está, há pelo menos dois meses, limitado ao estritamente necessário.

A situação de saúde pública se circunscreve a cada uma das nossas comunidades e é aí que tem de ser introduzidas as medidas necessárias. Os municípios tem sido atores principais na intervenção urgente e permanente, preventiva e paliativa, em todo este processo;

O encerramento de fronteiras decretado em nada contribui para a resolução da situação de saúde. Traz enormes constrangimentos à economia das empresas que ainda continuam a trabalhar e agrava substancialmente a vida de todos os trabalhadores transfronteiriços, alguns dos quais dedicados a desempenhos de primeira linha na área da saúde.

Como afecta o recente encerramento da fronteira no que diz respeito às relações económicas e a mobilidade laboral?
O fecho das fronteiras é uma medida que prejudica os territórios e não combate a pandemia. Vivemos tempos dramáticos, mas não se resolve este drama cortando a comunicação entre fronteiras, prejudicando os trabalhadores transfronteiriços.
É uma decisão unilateral, gravosa para quem tem negócios de um lado e vive no outro.

Como afecta este encerramento no que diz respeito à possibilidade de cooperação sanitária, tomando em conta que muitos cidadãos vivem e trabalham passando a fronteira?
Os territórios fronteiriços têm de ser encarados como dois povos unidos. A fronteira é vida. É uma linha que une e faz acontecer Europa.

Considera que estas medidas são efectivas para paliar os efeitos de contágios da COVID-19?
Garantidamente que não. Só prejudica os territórios, sem resultados do ponto de vista sanitário.

Considera Vocé que tanto os governos espanhol coma o português não se tomam muito a sério a existência das novas instituições constituídas ao longo do rio Miño nas que Vocé está representado?
Sem dúvida, mas é uma realidade que tem de ser alterada. A gestão autárquica é cada vez mais um exercício de trabalho em equipa com a totalidade dos territórios e não se compadece com fronteiras entre municípios tão próximos. No dia que todos agirmos dessa forma, as populações ganharão e os territórios também.

Analista de xeopolítica e relacións internacionais. Licenciado en Estudos Internacionais (Universidade Central de Venezuela, UCV), magister en Ciencia Política (Universidade Simón Bolívar, USB) e colaborador en think tanks e medios dixitais en España, EE UU e América Latina.