Guimarães/Máis Guimarães | Na manhã de 5 de julho, a vila de São Torcato, em Guimarães, acordou com uma energia diferente. O som das bicicletas cruzou-se com o repicar dos sinos da Basílica, e as ruas encheram-se de rostos curiosos e emocionados. Era o arranque da 6ª Volta a Espanha Solidária, que este ano assinalou um marco: pela primeira vez, a partida deu-se fora de território espanhol. E não poderia ter sido em lugar mais simbólico, mesmo em frente à Basílica que homenageia São Torcato, o santo que liga Guimarães a Toledo, cidade onde a prova terminou a 12 de julho.
Com o nome “Raízes”, esta edição da prova organizada pelo Movimiento Ultreya não se limitou a ser uma travessia de mais de 1.400 quilómetros em bicicleta. Foi, acima de tudo, um percurso emocional, de partilha cultural e valorização do património ibérico. Durante oito dias, dezenas de ciclistas e voluntários atravessaram caminhos rurais, montanhas e vilas históricas, levando consigo uma missão: celebrar a ligação entre povos, tradições e territórios, com espírito solidário. A escolha de São Torcato foi tudo menos casual. “É aqui que nasceu o padroeiro que dá nome à vila e que viria a falecer em Toledo. Esta rota simboliza a união dos nossos territórios”,
explicou Juan Ignacio Fernández, coordenador geral do Movimento, em declarações à Mais Guimarães.
A largada coincidiu com a Romaria Grande de São Torcato, uma das maiores manifestações religiosas do país, o que reforçou ainda mais o ambiente festivo e espiritual do momento. Para Alberto Martins, presidente da Junta de Freguesia, receber esta prova solidária foi “um orgulho imenso e uma oportunidade única para promover o melhor que temos: fé, hospitalidade, gastronomia, natureza e património”.
E não faltaram aplausos, lágrimas e entusiasmo por parte da população local, que recebeu os participantes. A Volta a Espanha Solidária atravessou oito etapas, ligando São Torcato à localidade galega de A Gudiña, passando por diferentes regiões e comunidades, até chegar a Toledo, onde São Torcato terá nascido.
A cidade, Capital Europeia do Desporto em 2025, acolheu os ciclistas com celebrações à altura da ocasião. Criado em plena pandemia, o Movimiento Ultreya tem vindo a afirmar-se como uma voz ativa no desenvolvimento rural e na coesão social. A Volta é a face mais visível desse esforço: um evento que conjuga desporto, espiritualidade e intervenção social. Mais do que uma prova de resistência, esta Volta foi uma travessia de identidade. E ao ligar São Torcato a Toledo, Portugal a Espanha, reforçou uma verdade simples: as raízes unem mais do que se vê à superfície, unem-nos naquilo que somos, naquilo que partilhamos e naquilo que aspiramos ser.