Gaélico.

Há poucos días minha amiga e colega Elsa Quintas obsequioume com um livro titulado A Boca Pobre do irlandés Flann O’Brien, na sua versão em galego. O autor relata em clave de humor, e com certo exagero, a dificil vida do irlandés colonizado e da pervivencia do seu idioma, o gaelico. O movimento cidadão na Irlanda do Norte (a que ainda segue a ser colonia británica), que recolhe nas suas novas e comentarios o Sermos Galiza destes dias, coincidindo com a leitura de este livro e incluso com a publicação em Edicions Laiovento do livro que recomendo, Retrato do Colonizado seguido do Retrato do colonizador e a lonjana lembranza do icónico Memorias de un neno labrego, de Neira Vilas, activarom em mim o sentimento de solidaridade com aqueles que tanto sufrirom na defesa, muitas vezes inconsciente, do seu mundo, da sua independencia e da sua fala, incluso com aqueles que se plegarom aos designios e imposições do invassor (os dispostos a dizer que chovia quando mijavam por iles) por simples considerações de subsistencia e meu desprecio polos traidores, os que por medrar forom capaces de vender sua pessoalidade colectiva e ser o chicote, o mandarim do colonizador contra seu povo.

“se tratava de um político, que provavelmente falaria esse horendo castrapo, esse pseudogalego deturpado e tatexante, baseado num castelhano pouco cultivado”

Há um treito no livro comentado que me resultou revelador de como os degraus subidos ou baixados na miseria dos perdedores coincidem. O avó relata-lhe a seu neto uma serie de sinais que nada bom anunciavam, mas por infaustas que semelhem, acrescenta, “foi outra cousa a que me provocou um medo que me comprimiu o corazón: Volvía á casa, desde Fionntrá e observei que un forasteiro elegante, moi ben vestido, viña cara a min polo camiño. Como son un gaelico ben educado, boteime a un lado para que o camiño quedase libre para o cabaleiro e non houbese un individuo coma min obstaculizando a estrada. Por desgraza non hai explicación para os milagres do mundo! Cando chegou á miña altura, ao lugar onde eu agardaba con humildade entre o entullo e o trollo da beira do camiño, detívose, miroume amigablememte E FALOUME! Botei fora todo o aire que tiña no corpo por mor do medo e da sorpresa. Depois quedei aparvado durante un longo anaco de tempo… Pero …agarda, agarda… FALOUME EN GAELICO!”. Penso que a escena poderia haverse dado igualmente na Galiza na primeira metade do século pasado e anteriores; ja no último tercio e no que corre do actual a sorpresa não existiria, teriam bem claro que se tratava de um político, que provavelmente falaria esse horendo castrapo, esse pseudogalego deturpado e tatexante, baseado num castelhano pouco cultivado.

A dureza dos ingleses colonizadores sobre os irlandeses manifesta-se no livro, ainda que pudesem mostrar certa generosidade pois aos míseros e paupérrimos camponeses ofereciam dinheiro para que deixasem de utilizar o gaelico. Não tenho noticia de que houvese oferta semelhamte neste nosso país, mais bem cobrariam. Continua Irlanda do Norte sendo colonia inglesa com um grao de autonomia que deve andar aproximada á nossa, mas o sentimento de identidade, doorosamente mantido a través dos tempos, os anima tambem agora a manifestarse para recuperar sua sinal de identidade, sua fala gaélica, como em “Sermos” nos informam. Eles ainda andam com o reconhezimento da sua lingua nacional, “conquista” que nós já temos obtida, mas… com que resultado?: o número de falantes redúcese, perde peso incluso como idioma ritual, não incorpora novos falantes porque as leis da Xunta impidem seu uso nas escolas, a sociedade cada vez parece mais castelanizada, a Xunta não só não fai nada por animar o seu uso senóm que mostra desleixo e animadversão na sua normalização…

“certamente a sociedade fica cada vez mais castelanizada e o emprego primordial do castelhano é primado pola propria Xunta”

Volve a ser mostra de militancia nacionalista, como o foi na época franquista, o emprego normal da lingua galega nos ámbitos mais comuns da sociedade. Fora dos circuitos do poder político, como se atopa o BNG na actualidade, não sei qual pode ser a fórmula para conter, de momento, e recuperar depois o emprego normal da nossa lingua (se digo “fora dos circuitos do poder” não significa que com o “poder” podamos “impor”, quer dizer que disporiamos de resortes para normalizar seu uso); certamente a sociedade fica cada vez mais castelanizada e o emprego primordial do castelhano é primado pola propria Xunta; resultamos tal vez extrangeiros na nossa patria quando fora dos círculos mais tradicionais entramos em conversa em galego mentras o resto do pessoal o fai em castelhano; mas se consideramos que estamos a empregar uma lingua que não é menos que qualquera outra, que é a nossa e que os outros contertulios deveriam entender, ainda que não a falem, nemgum sentimento de “rareza” nos deve asaltar, especialmente se o fazemos com naturalidade, sem que constitua agressão nem militancia, sem que nos sintamos “diferentes”. A conviccióm comenza por nos mesmos, nada temos que demostrar, só utilizar o galego com a mesma naturalidade com a que poderiamos nese caso empregar o castelhano. No meu entorno social e profisional fála-se mais castelhano que galego sem que para mim constitua barreira alguma o emprego a cotio do galego, incluso na escrita, pese a adoptar a ortografia padrom; chega um momento em que a gente habitua-se a escoitarte em galego e tua atitude anima a alguns a que, alomenos contigo, tambem falem galego ou que incluso se sintam na obriga de desculpar-se com o manido “a mi ya me gustaria pero lo hablo muy mal”, nese momento os que se sintem incómodos som eles.

“dende o BNG deveria-se lanzar uma campanha de conscienciação no uso do idioma”

Não quisera pecar de pesado pois minha teima quase vital é a do idioma, mas insistiria em que dende o BNG deveria-se lanzar uma campanha de conscienciação no uso do idioma; sair dos projectos para incidir na realidade, pois há incluso muitos (ou alguns) nacionalistas que se situam com normalidade no castelhano tal vez sem deixação nem tibieza, senão por comodidade ou por hábito familiar ou social. Devem-se criar redes de familias com nenos que utilicem entre eles o galego para contrarestar a influência tanto da escola como da relação com outros nenos de fala exclusiva castelhana. As propostas do Grupo Lingua parecem oportunas, mas som as mesmas repetidas de momentos anteriores que não acabam por levarse adiante; de ideias semelha que andamos muito bem, mas na ejecução falhamos. Em vez de tantas propostas eu diria, vamos a trabalhar já sobre toda a militancia para animá-los a sentirse monolingües na nossa fala; depois poderiamos ir tratando de levar adiante as outras propostas. Não podemos deixar para nossos filhos a tarefa de recuperar uma lingua que daquela, se continua este caminho, ficará muito mais desasistida. Na Irlanda sairom á rua centos de pessoas, noticia alegre polo que significa de vontade de recuperação da lingua propria, mas tambem triste porque centos de pessoas é pouca gente para semelhante empresa.

Quinta do Limoeiro, março de 2017.

Advogado. Ourense - Vigo - Porto